quarta-feira, setembro 24, 2008

Os homens ocos, de T. S. ELIOT

Imagem retirada do blog: Fiel Inimigo


Os homens ocos, de T. S. ELIOT



OS HOMENS OCOS
“A penny for the Old Guy”
(Um pêni para o Velho Guy)
Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Forma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II
Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frémito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

- Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III
Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trémulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV
Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V
Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada

Entre a ideia
E a realidade
Entre o movimento
E a acção
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reacção
Tomba a Sombra
A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

(tradução: Ivan Junqueira)

sábado, setembro 06, 2008

Crianças de rua



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As equipas de intervenção (do Instituto de Apoio à Criança) assentam na figura do animador de rua, que tem como primeiro objectivo estabelecer uma relação fraternal com a criança (e com o adolescente), através da qual se vai posicionar como referência emocionalmente securizante.
Até se chegar a uma relação estável demora-se sempre algum tempo, devendo respeitar o ritmo da criança, as suas desconfianças, suspeitas e frequentemente mentiras, como formas de defesa perante uma pessoa desconhecida que ela considera potencialmente ameaçadora. Pouco a pouco, o animador torna-se útil, quer como companheiro de lazer, quer como ouvinte atento e não crítico.
Uma vez estabelecidos laços, o animador tem como missão ajudar a criança a construir um projecto de vida: Ora como se depreende do que atrás referi, nesta fase ele vai-se confrontar com uma segunda dificuldade: a criança (o adolescente) da rua, tão competentes para desenvolverem estratégias de sobrevivência no Presente, revelam, muitas vezes, sérias dificuldades em equacionar o Futuro. Também aqui pode o animador não pode cair na tentação da manipulação: qualquer tentativa desse género, iria provocar uma regressão séria na relação entretanto estabelecida, gerando antigos medos e desconfianças.
Basicamente, o seu projecto de vida leva-o a problematizar a questão da família, da escola e do trabalho donde fugiu ou foi expulso.
O papel de animador de rua, discretamente apoiado por uma equipa técnica que desenvolve um trabalho de retaguarda, é de ajudar a definir objectivos viáveis e de contribuir para que essas pequenas metas sejam atingidas com êxito.
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Bibliografia:

1993 " A criança de rua: um rejeitado da cidade", in A cidade. Jornadas inter e pluridisciplinares, Actas II, pp. 321-334, Lisboa, Universidade Aberta


Já em 1993 havia uma base teórica no combate à deliquência, arrojada. É caso para dizer que aos produtos de investigação nas diversas áreas das Ciências Sociais e Educacionais estão normalmente à frente dos decisores politicos.
O investimento num projecto de rua junto de crianças abandonadas, é chamado de trabalho invisivel porque não traz resultados imediatos e longe está de gerar grandes entusiasmos. Para combater o crime é bem melhor um grupo de Intervenção Policial e o respectivo espectáculo TV.
O medo faz o homem se tornar uma besta. Não foi nos anos 40-50, foi agora, em pleno século XXI em que se hesitou entre ajudar ou exterminar para limpar o mal que "anda por aí"
De 93 a 08 apareceu uma nova forma de abandono, que não sendo fisico gera inúmeros problemas (por exemplo: violência escolar), dar-lhe-ei o nome de "acompanhamento esquivo", onde predomina o discurso incoerente.
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Formiga

Ver este artigo:

A chacina das crianças da Candelária