sexta-feira, dezembro 25, 2009

Palavras de Ordem Jean Baudrillard

Imagem retirada do blog: Maio, 26


Palavras de ordem... A expressão parece-me definir muito bem uma forma quase iniciática de entrar no interior das coisas, sem todavia se estabelecer um catálogo. As palavras são portadoras e geradoras de ideias, talvez ainda mais do que o contrário. Os operadores de charme, operadores mágicos, não transmitem apenas ideias e essas coisas, mas elas próprias se metaforizam e se metabolizam umas nas outras, segundo uma espécie de evolução em espiral. É asssim que se revelam como transmissoras de ideias.
As palavras têm para mim uma extrema importância. Que elas possuam uma vida própria, portanto, sejam mortais, é uma evidência para quem não reivindica um pensamento definitivo e uma visão edificante. Como é o meu caso. Existe na temporalidade das palavras um jogo quase poético de morte e renascimento: as sucessivas metaforizações fazem com que uma ideia se torne outra coisa para lá dela mesma - uma "forma de pensamento". Porque a linguagem pensa, pensa-nos e pensa por nós, pelo menos enquanto nós pensamos através dela. Trata-se aqui de uma troca, que pode ser simbólica, entre palavras e ideias.
(...)

Baudrillard, Jean, 2001, Palavras de Ordem (1ªedição),Campo das LetrasO meu regresso teve todo o apoio de Maria C. P., o sincero agradecimento de
Formiga.

domingo, maio 31, 2009

"Processo exotópico da minha relação com o outro"

http://anafilatico.wordpress.com


...da consciência que eu tenho do outro:

"O excedente da minha visão contém em germe a forma acabada do outro, cujo desabrochar requer que eu lhe complete o horizonte sem lhe tirar a originalidade. Devo identificar-me com o outro e ver o mundo através de seu sistema de valores, tal como ele o vê; devo colocar-me em seu lugar, e depois, de volta ao meu lugar, completar seu horizonte com tudo o que se descobre do lugar que ocupo, fora dele; devo emoldurá-lo, criar-lhe um ambiente que o acabe, mediante o excedente de minha visão, de meu saber, de meu desejo e de meu sentimento" (p.45).
BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Mal Visto Mal Dito Samuel Beckett



"O rosto recebe ainda os últimos raios. Sem nada perder da sua palidez. Da sua frieza. O sol suspende a sua queda o tempo de tal imagem rasando o horizonte. Que é como diz a terra a sua desordem. Os finos lábios parecem destinados a não mais se abrirem. Na mal reprimida sutura um pouco de polpa. Pouco provável teatro de beijos outrora dados e recebidos. Ou dados somente. Ou somente recebidos. A reter sobretudo a ínfima curva das comissuras. Um sorriso? Será possível? Sombra de sorriso antigo que enfim sorri de uma vez por todas. Assim se apresenta a mal entrevista boca à luz dos últimos raios que de súbito a abandonam. Ou que a própria boca porventura abandona.
Regressa à escuridão onde sorrir sempre. Se sorrir é isso."

Edições Quasi

Publicado por Formiga

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Neoliberalismo - uma exploração sem limites




…[o] mundo aí está, e nele, imediatamente visíveis, aí estão os efeitos da aplicação da grande utopia neoliberal: não só a miséria e o sofrimento de uma fracção cada vez maior das sociedades economicamente mais avançadas, o aumento extraordinário das diferenças entre os rendimentos e o desaparecimento progressivo dos universos autónomos de produção cultural, cinema, edição, etc., …, e portanto, a prazo, dos próprios produtos culturais, através da intrusão crescente de considerações de ordem comercial, mas também e sobretudo a destruição de todas as instâncias colectivas capazes de se oporem aos efeitos da máquina infernal, na primeira das quais se encontra o Estado, depositário de todos os valores universais associados à ideia de público, e a imposição, por toda a parte, nas altas esferas da economia e do Estado, ou dentro das empresas de uma espécie de Darwismo moral que, juntamente com o culto do winner, com a sua formação em matemáticas superiores e em “desportos radicais”, instaura a luta de todos contra todos e o cinismo como normas de todas as práticas.

BOURDIEU, Pierre
1998, Contrafogos. O Neoliberalismo, utopia (em vias de realização) de uma exploração sem limites. Oeiras: Celta.


Formiga