quinta-feira, dezembro 30, 2010

Instante


Que faria eu sem este mundo sem rosto sem questões

Quando o ser só dura um instante onde cada instante

Se deita sobre o vazio dentro do esquecimento de ter sido

Sem esta onda onde por fim

Corpo e sombra juntos se dissipam

Que faria eu sem este silêncio abismo de murmúrios

Arquejando furiosos em direcção ao socorro em direcção ao amor

Sem este céu que se eleva

Sobre o pó dos seus lastros

Que faria eu eu faria como ontem como hoje

Olhando para a minha janela vendo se não serei o único

A errar e a mudar distante de toda a vida

preso num espaço-marioneta

Sem voz entre as vozes

Que se fecham comigo.



Samuel Beckett

(tradução de Tiago Nené)

Fonte: http://casadospoetas.blogs.sapo.pt/50074.html


No dia 29 de Dezembro de 2010 estreou a peça de teatro "À Espera do Senhor Samuel B".

Mais informação no Expresso

Encontrei um excelente vídeo da peça "À espera de Godot"



Formiga

quarta-feira, setembro 08, 2010

A questão da Felicidade





Ninguém melhor que Rosseuau soube explicar os dilemas intransponíveis da questão da felicidade. Ser incompleto, incapaz de se bastar a si próprio, o ser humano tem necessidade do outro para conhecer a felicidade. No entanto, por depender da relação com o outro, o indivíduo está inevitavelmente condenado às decepções e às mágoas da vida. Uma vez que preciso dos outros para ser plenamente feliz, a minha felicidade é necessariamente fugaz e instável. Sem o outro não sou nada; com o outro, estou à sua mercê: a felicidade à qual o homem pode aceder só pode ser uma “felicidade frágil”. A lição é reveladora: como não podemos ser felizes sozinhos, não somos senhores da felicidade. É algo que nos “acontece” ou nos abandona, e que em larga medida escapa ao nosso controlo; é, por excelência, aquilo que não possuímos. A influência do outro sobre a nossa felicidade é considerável, e dispomos apenas de um fraco poder para controlar o seu curso. Infelizmente, a experiência da felicidade é efémera. (…)
… mas sobretudo ela que me escolhe a mim. Espécie de estado de graça, “a felicidade vem quando quer, não quando eu quero”.
Lipovetsky, Gilles, A Felicidade Paradoxal, Lisboa, Edições 70,2007
Formiga