in Traição do eu – o medo da autonomia no homem e na mulher, Arno Gruen
Páginas: 83, 84 e 85
“O vício do poder destrói o coração do homem. Insistindo cegamente em tal defeito, o homem diminui-se a si próprio e à mulher, de cuja cumplicidade precisa, para confirmar a sua imagem de poderoso. É esta imagem que, conscientemente ou não, se tornou o sentido da sua existência. Verdadeiro amor não pode surgir porque ninguém está para ser desafiado nos seus pontos sensíveis. Só o que confirme tal imagem é considerado aceitável numa relação “amorosa” dessas. O “Eu” que teria sido possível a cada um é odiado, como ele inclui, também, a vivência do desamparo e do sofrimento. Evita-se a verdadeira responsabilidade, assim como a verdadeira compreensão do outro e de nós próprios. Vivemos em charadas e quando essas não resultam, enfurecemo-nos e matamos.
Passamos as nossas vidas à procura de heróis. E, no momento em que elegemos para nosso herói (ou nossa heroína) se transforma numa pessoa real, deixamo-lo (ou –la). Passamos a desprezá-lo. Ao agirmos assim nem reparamos como, e dentro da lógica do nosso procedimento, nos sentimos enfraquecidos pela perda” – próximos da morte. A depressão e o desespero que constituem o pano de fundo da nossa cultura aparentemente tão radiante são sintomas inequívocos disso.”
(…)
“Como é natural, a realidade do mundo sentimental verdadeiro consiste, também, noutros conteúdos vivenciais: alegria, êxtase, coragem e luto.
Mas não da alegria que se instala por passarmos à frente de alguém, ou o êxtase que pode ser causado pelo sucesso obtido numa competição, quer dizer, todas aquelas vivências que, já de si, provém de uma realidade “postiça”: a da necessidade de ter sucesso para fugir ao falhanço. Falo da alegria baseada em empatia causada pelo desenvolvimento de outra pessoa, ou até de uma planta; a vivência partilhada de alegrias e tristezas. (…)”
O mito da mulher troféu, reluzente, que numa desmedida solicitude nos preenche a pretensão do ego para a superioridade, no fundo a presença de outros, em contexto grupal leva o homem ao jogar pelo inseguro.
A mulher como extensão do homem, segundo a teoria deste autor.
Também podemos referir que muitas mulheres ainda valorizam a imagem estereotípica da postura M. Aceitam a condição de sub conjugação, ignoram que sem igualdade, não existe uma verdadeira apreensão da realidade.
A falsa cedência por parte da mulher advém de um défice de confiança intrínseca que teima em parecer carecer de um excesso de auto-afirmação por parte do homem, o seu herói protector.
Arno, Gruen
Formiga
Sem comentários:
Enviar um comentário